1. |
Vento
03:28
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Eu que praticamente moro na rua
Eu que sempre tive de tudo
Agora quero muito mais
Agora eu quero mais que nada
Eu que raramente respiro fumaça
Não me contento mais com ar puro
Agora é pouco não olhar pra trás
Agora é cabeça parada
Sempre gostei do vento no rosto
Mas eu não consigo mais parar
Agora tudo pode me alcançar
Eu que dificilmente fecho os olhos
Eu que raramente fico mudo
Agora evito acidentes fatais
Agora quero a história bem contada
Eu que felizmente acho engraçado
Eu que não acho nada absurdo
Agora prendo os animais
Agora durmo de porta fechada
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2. |
Bem-Vinda
03:30
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Do tempo que ainda falta
Nessa tarde quente e vermelha
Uma parte é pra te chamar
Uma parte é pra te esquecer
Do veneno que ainda falta
Nesse ferrão de abelha
Uma parte é pra te adoçar
Uma parte é pra adormecer
Bem-vinda
À uma nova trapaça
Bem-vinda
A mais um dia da caça
Do gole que ainda falta
Na cachaça que vem centelha
Uma parte é pra te engasgar
Uma parte é pra voce beber
Do papel que ainda falta
No retrato que eu rasguei
Uma parte é pra te lembrar
Uma parte é pra devolver
Do pedaço que ainda falta
Nessa boca que eu pintei
Uma parte é pra te assustar
Uma parte é pra te render
Do remédio que ainda falta
Nesse copo que eu preparei
Uma parte é pra te curar
Uma parte é pra entorpecer
Bem-vinda
À uma nova trapaça
Bem-vinda
A mais um dia da caça
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3. |
Até Agora Nada
04:43
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Enfio a cara na rua, na noite, nos outros,
E até agora nada
Nada que tire esse gosto,
Nada que aumente a dor
Que eu preciso pra esquecer
Eu saio de terça a domingo, e segunda
E até agora nada
Nada que me mude os olhos,
Nada que tenha uma cor
Que eu goste de ver
Pro mundo acabar amanhã eu danço, bebo, fumo,
E até agora nada
Nada que traga essa calma,
Por mais que eu saiba de cor
Tudo que eu não devo ser
E hoje,
Toda boca é limpa
Toda pele é lixa
Todo beijo é só
E hoje,
Toda boca é limpa
Toda pele é lixa
Toda mão é nó
E até agora nada
E até agora nada
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4. |
Enquanto
03:10
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Eu sempre espero esboços
Eu sempre espero trapaças
Eu sempre espero ameaças
Eu sempre cuido dos ninhos
Eu sempre corro nos trilhos
Eu sempre perco os meus cílios
Tomo cuidado com facas
E me esqueço das datas
Batuco em mesas de lata
Enquanto
Eu espero o dia nascer
Eu espero acontecer
Da chave aparecer
Eu sei
Não espero uma solução
Nem nada na minha mão
Eu tenho os pés no chão
Mas eu cansei de ficar
Esperando à sua mercê
Eu sei que nada mais vai valer
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5. |
Carnaval
02:40
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Eu fecho os olhos, sinto tudo acabar
Na sua mordida
Lá fora é carnaval e ninguém se preocupa
Em escutar nada
Nem todo calor vai me empurrar
Em direção à saída
Embora seja normal sentir alguns calafrios
Em noite estrelada
Ainda é muito cedo pra recuperar
A saliva perdida
E sendo assim, você devia manter
Sua boca fechada
Os perigos que me esperam na pele
E já procuram por frestas
São os mesmos que emudecem a verve
E assassinam poetas
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6. |
Sensatez
03:28
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Ouça o meu riso histérico
Pense sobre o que ele pode ser
E o que me fez tão agressivo
Não me importa o dilema
Eu só preciso responder
Com toda a raiva que eu cultivo
Não posso ser mais cético
Mas posso me convencer
A ser bem mais impulsivo
Já que não existe problema
Que não de pra resolver
Com a quantidade certa de explosivos
Difícil mesmo é acreditar na sensatez
Cada ataque de certeza
Alimenta a estupidez
O choque me deixa elétrico
Nada traz tanto prazer
Do que o ódio criativo
Não tenho nenhum esquema
Só o que eu tenho que fazer
Toda a guerra é o meu objetivo
Uma hora o outro acorda
E eu espero não estar aqui
Uma hora rompe a corda
E eu espero não estar aqui
Uma hora isso transborda
Eu não quero estar aqui
O encanto é magnético
Nada como algum poder
Pra que eu sinta que estou vivo
Ataco com força extrema
E quem vai pagar pra ver
Não preciso de qualquer motivo
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7. |
Traço
03:12
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Não pense que o silencio é ruim pra mim
Só porque eu vivo de sobras
Minha cabeça tem um teto que não tem fim
Meu espaço não tem bordas
Todo dia eu quase pego um violão
E quase toco todas as cordas
Toda noite eu não desvio da escuridão
E me enfio em todas as tocas
Sempre procuro árvores pra me encostar
E deixo os pés descalços
Pra roubar uma memória de quem passar
E dormir com sonhos falsos
Quase tudo que me jogam eu deixo passar
Mas nunca perco um abraço
E desenho com os dedos pelo ar
Eu moro no meu traço
E me sinto como os homens que disarmam bombas
E me sinto como quem inventa um brinquedo novo
E me sinto como quem puxa o gatilho por engano
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8. |
Diversão + Desespero
02:53
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Se estamos na rua de olhos bem abertos
Talvez abertos demais
Se estamos esperando alguém que satisfaça
O que nada satisfaz
Não é tão estranho
Que faltou mais tempo
Ou foi tempo demais
Se estamos na rua de olhos bem abertos
Talvez abertos demais
Se estamos esperando alguém que satisfaça
O que nada satisfaz
Não é o tamanho
Do arrependimento
Que faz abrir o gás
Tento separar
O que é diversão do que é desespero
De onde vem a fumaça
Onde está o isqueiro
Tento separar
O que é diversão do que é desespero
De onde vem a fumaça
Onde está o isqueiro
E o telefone não toca
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9. |
Cáries
03:43
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Tomo espaços por mim
Abro passagens sem fim
Onde cabem muitas perguntas
E as teses ficam todas assim
Faço perguntas sem sins
Derreto pedras nos rins
Onde tento muitas permutas
Mas as mentiras têm pernas ruins
Já que os espaços não valem
O que dizem as pedras e os mares
Já que as perguntas não valem
O que tomamos dos lares
Pedaços de frases me traem
Armadilhas já bem populares
Quando as nossas culpas recaem
Meus dentes se enchem de cáries
Meus olhos já não alcançam mais
Já não tem fim, já não tem fim
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10. |
Agora Nunca
03:12
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Agora nunca
Sempre a próxima coisa
E não é pelo momento
Que escorrega sempre
E nem é pelo passado
Que na verdade é o presente
Agora e antes
Os tempos ao mesmo tempo
Quando a hora bate
Ela não bate de frente
Agora nunca encosta
Ele apenas passa rente
Agora e sempre
Agora e sempre urgente
Esse tempo do relógio
O tempo que sempre mente
Toda hora é diferente
Toda hora é um acidente
Agora e ontem
E nunca é coerente
Nos vazios da memória
Agora e inconsciente
Do pulso que um dia acaba
Em todo tipo de gente
Ontem à tarde nos meus rins
Dez e quinze na minha cara
Ano passado nos meus olhos
Hoje à noite nunca para
Trinta frames por segundo
Quantos bytes por segundo
Trinta metros por segundo
Quantos beats por segundo
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11. |
Todo Dia
02:51
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Hoje eu não olhei pra trás
E até que foi bastante bom
Todo galho um dia quebra
É melhor estar fora do abrigo
Todo esforço que a boca faz
Trinca os dentes mais não sai som
Toda amizade celebra
O fato de não termos nenhum amigo
Todo dia eu perco a hora
Todo dia eu perco tempo
Todo dia eu perco brilho
Todo o dia eu perco o dia
Todo dia eu perco um sonho
Todo dia eu perco um filho
Se eu sou mesmo um incapaz
Preciso aproveitar o dom
O risco corrido espera
Pela boa vontade do perigo
É triste ser o bom rapaz
Mas consigo alterar o tom
A alegria foge à regra
Mas algum sarcasmo eu já consigo
Todo dia eu perco a hora
Todo dia eu perco tempo
Todo dia eu perco brilho
Todo o dia eu perco o dia
Todo dia eu perco um sonho
Todo dia eu perco um filho
Se a vontade tira a paz
Desisto de uma conclusão
O meu desejo de guerra
Espera feliz pelo castigo
Se nem toda violência é capaz
De tirar da boca o seu batom
Quase nenhum beijo erra
Então não se preocupe comigo
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Max Henrique Belo Horizonte, Brazil
Músico, artista plástico, pesquisador.
Musician, Visual Artist, Academic researcher.
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